Relembrar o golpe para nunca mais acontecer, dizem lideranças em ato pela democracia

Em SP e outras cidades do país, Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo foram às ruas para defender a democracia. A memória das atrocidades do golpe de 64 devem se manter vivas como alerta para as novas gerações  

Escrito por 25 de março de 2024
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Livros e aulas de história na escola sempre tiveram o papel de resgatar, analisar e estudar os acontecimentos a fim de que a humanidade não cometa os mesmos erros do passado e construa não somente um presente, mas também um futuro mais justo, civilizado e democrático. Organizado pela CUT, frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, além de partidos políticos, o Dia de Mobilização Nacional em Defesa de Democracia – este sábado, 23 de março – se prestou a essa missão.

No ato realizado em São Paulo, em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, o ex-deputado José Genoino, liderança história do Partido dos Trabalhadores, expoente na luta contra o regime militar que tomou o poder no Brasil após o golpe de 1964, afirmou que a defesa da democracia, hoje, passa pelo resgate da história recente do país.

José Genoino/Foto: Roberto ParizottiJosé Genoino/Foto: Roberto Parizotti

“A nossa democracia está em uma encruzilhada que deve ser resolvida recuperando a memória do que aconteceu em 1964, em 2016 e em 2023, que são três datas que se ligam. É muito importante que a luta pela democracia continue assim como esclarecer às novas gerações o que aconteceu com o país e o que não pode acontecer”, disse Genoino, duranto o ato.

 


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Defesa da democracia

Além da capital paulista, atos foram feitos em várias cidades do país. As organizações foram às ruas para manter viva a memória de um Golpe de Estado no país em 1964, exigir punição para os golpistas que tentaram tomar de assalto o poder nos ataques a Brasília em 8 de janeiro de 2023, além de prestar solidariedade e exigir o fim do genocídio do governo de Israel contra o povo palestino.

Ao destacar a defesa da democracia, na capital paulista, lideranças sindicais e dos movimentos sociais levaram a mensagem de que o país não pode viver sob ameaças de golpe e de ataques a direitos sociais e civis, e que a democracia é nosso maior patrimônio.

“É importante termos em mente que este não é um ato em contraposição ao ex-presidente e suas manifestações. É um ato cuja intenção é que se mantenha viva a consciência de que 1964 foi um golpe, da mesma maneira que tentaram fazer no 8 de janeiro de 2023 e que não deve se repetir no Brasil, de forma alguma”, ressaltou o secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo.

Manter viva a história no consciente coletivo também foi a afirmação do Secretário-Geral da CUT, Renato Zulato. “Estamos aqui lembrando o golpe de 1964 para reforçar que não queremos – nunca mais – outro golpe no país”, disse.

Para o dirigente, o povo brasileiro tem que estar alerta, sempre, “porque a extrema direita está a todo momento tentando desestabilizar um governo democraticamente eleito. Estamos aqui, falando para aqueles que viveram os tempos sombrios e para os jovens que precisam ter conhecimento do horror daquele período”, pontuou Zulato.

Ainda em São Paulo, a secretária de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT, Jandyra Uehara, falou aos presentes que é preciso a classe trabalhadora compreender que “não há avanços sociais, trabalhistas e políticos fora do regime democrático”.

“Durante a ditadura o regime militar perseguiu as organizações dos trabalhadores, prendeu, assassinou, torturou e impôs ao país uma política econômica que destruiu direitos dos trabalhadores, além de entregar nossas riquezas aos interesses imperialistas”, disse a dirigente.

Ela citou ainda que a resistência e a luta do povo trabalhador brasileiro e das organizações que defender direitos e democracia foi ‘o caminho de volta do inferno’.

“Com muita luta, a partir das greves do fim da década de 1970, a resiliência e coragem do movimento sindical, à época, com greves e as manifestações populares dos anos 1980, redemocratizamos o país”, disse Jandyra durante sua fala, resgatando, como nas aulas de história, o passado, para que a sociedade construa um futuro sem o terror do autoritarismo.

Sempre alerta e sem anistia a golpistas

Jandyra ressaltou ainda que a defesa da democracia é constante porque as ‘forças antidemocráticas não descansam’ e relembrou os anos recentes. “Em 2016, Dilma, democraticamente eleita, foi deposta por um golpe. Vieram Temer e Bolsonaro, destruindo a nossa democracia, mas nossa resistência resultou na eleição de Lula, em 2022, para trazer o país e sociedade de volta ao caminho da liberdade democrática, dos direitos, do bem-estar social”, pontuou.

A dirigente encerrou com um alerta direto sobre a atual conjuntura. “Nada está garantido. Vimos após a posse de Lula, em 2023, uma nova tentativa golpe por aqueles que querem entregar o país aos interesses econômicos das elites e de imperialistas internacionais”

Estamos nas ruas pela liberdade democrática, dizendo ‘ditadura nunca mais’ e democracia sempre’. E punição para os golpistas. Esse é o nosso ato de resistência, de luta

– Jandyra Uehara

Lideranças

CUT, sindicatos, centrais sindicais, movimentos sociais e outras personalidades, em meio a bandeiras, faixas e cartazes exigindo democracia e prestando solidariedade ao povo palestino compuseram o cenário da manifestação que tem suas pautas apoiadas pela sociedade. A torcida Antifascista do São Paulo Futebol Clube compareceu para reforçar o grito “Ditadura Nunca Mais”.

A união da sociedade em torno do tema foi destacada pelo coordenador geral da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim. Após explicar que o golpe de 1964, por ser uma ação militar contra a democracia, tem relação direta com os atos do 8 de janeiro de 2023, Bonfim reforçou o papel das instituições democráticas contra o autoritarismo que tentou se impor ao país.

“Essa mobilização é importante por marcar os 60 anos de um golpe sanguinário que matou, torturou e exilou milhares. Ter essa memória é importante para alertar a juventude e as futuras gerações para que não se repita e de [o golpe de 1964] tem relação com os últimos acontecimentos”, disse o dirigente.

E fez também o alerta de que “se não fosse a reação dos movimentos sociais, do movimento sindical, do governo e da sociedade civil, estaríamos hoje novamente em uma situação de ditadura”.

Resgate breve da história – a relação entre 64 e os dias de hoje

Durante o ato, em entrevista ao Portal da CUT, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, explicou que o golpe de 1964 aconteceu, precisamente, quando o então presidente João Goulart (Jango) prometeu reformas de base.

“Ele não estava falando de revolução, era uma reforma agrária e outras. Mas as classes dominantes, junto com os militares deram um golpe no país. Quem sustentou o golpe foram os latifúndios. Agora, no 8 de janeiro, quem sustentou o movimento, de novo, foi o agronegócio, ou seja, os latifúndios de antigamente, que aceitam reformas no país”, disse Gilmar Mauro.

Explicou também que à época foram assassinadas milhares de pessoas que se levantaram contra. “São os nossos heróis e estamos nas ruas hoje para dizer que ditadura não serve à casse trabalhadora, só serve às classes dominantes”.

Gilmar Mauro/Foto: Roberto Parizotti Gilmar Mauro/Foto: Roberto Parizotti

O genocídio na Palestina

Foi também bandeira de luta do Dia de Mobilização Nacional, o repúdio ao governo de Israel, comandando por Benjamin Netanyahu. Após cerca de cinco meses de um conflito com o grupo Hamas, mais de 31 mil pessoas morreram. A maioria é de mulheres e crianças.

Genocídio: a ação do governo israelense tem sido denunciada justamente por ser configurar como uma ofensiva desmedida contra o povo palestino, na Faixa de Gaza, destruindo cidades, escolas, hospitais, matando inocentes. O governo brasileiro cobra um cessar-fogo imediato. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao comparar a ação com o holocausto, ou seja, com a matança promovida por Adolf Hitler, foi duramente criticado pela extrema direita brasileira – os mesmos que não se pronunciam sobre as cruéis mortes de palestinos.

Dois governadores brasileiros, o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o de Goiás, Ronaldo Caiado (União), ambos seguidores da ideologia da extrema direita, foram a Israel, munidos de uma presunção sem precedentes, para ‘pedir desculpas’ pela fala de Lula, a Netanyahu.

A visita ao genocida foi também alvo de repúdio dos movimentos sociais na tarde deste sábado. “É lamentável. Eles não têm atribuições e nem mandato para falar em nome do governo brasileiro e do povo brasileiro”, disse Raimundo Bonfim, da CMP.

Ele citou ainda um velho ditado. “Diga-me com quem andas, que te direi quem és”, para ilustrar o círculo político desses governadores, se referindo a Netanyahu.

“Eles foram fazer visita a um assassino, responsável por matar milhares de palestinos e palestinos e impedir acesso a alimentação e água. São cúmplice”, pontou Bonfim.

Outras cidades

Em mais 22 cidades brasileiras, atos também foram realizados, levando sindicalistas, lideranças de movimentos sociais e de partidos políticos. Atos também foram realizados no exterior. Em Lisboa, capital de Portugal, na Praça Luís de Camões o núcleo do PT Lisboa organizou uma manifestação que além das pautas do Dia de Mobilização, também levou às ruas cartazes homenageando Marielle Franco, vereadora carioca assassinada há seis anos.

Além do partido, membros do PCdoB, Comitê de Mulheres Migrantes, e Comitê de Luta Portugal também participaram do ato.

Rafael Condack Rafael Condack Rafael Condack

 Rafael Condack

Cobertura 

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