“Gabri[ELAS]”, solo teatral sobre a 1ª mulher a lutar pelos direitos das prostitutas no Brasil
O espetáculo acontece nesta sexta-feira (20), às 20h, no Sesc Campinas, finalizando com um bate-papo com a líder da Associação Mulheres Guerreiras de Campinas, Betânia Santos
Escrito por Nice Bulhões, com informações da Assessoria de Imprensa do Sesc Campinas 17 de setembro de 2024A menos de um mês para completar 11 anos de sua morte, em 10 outubro de 2013, Gabriela Leite volta a ser homenageada no solo Gabri[ELAS] desta vez no Sesc Campinas. O espetáculo acontece às 20h desta sexta-feira (20). Os ingressos custam a partir de R$ 15,00.
Gabriela é o principal nome da luta pelos direitos das prostitutas no Brasil. Por isso, após a apresentação, haverá um bate-papo com a líder da Associação Mulheres Guerreiras de Campinas, Betânia Santos, que fez parte da pesquisa para a construção da peça.
O espetáculo estreou em janeiro deste ano, no Sesc Avenida Paulista. Fez temporadas no Teatro Oficina, no Itaú Cultural e no Teatro Arthur Azevedo. Ainda participou da Mostra Segundas de Solo no espaço cultural ºAndar e fez apresentações no Sesc Bauru e no Sesc Ribeirão Preto.
Experimento cênico-sensorial
Estrelado por Fernanda Viacava, dirigido por Malú Bazán, escrito por Caroline Margoni e com pesquisa e curadoria de Elaine Bortolanza, o trabalho registra e reativa a memória de Gabriela Leite, ultrapassando a barreira das ruas e do estigma, ao falar sobre prostituição na perspectiva do desejo e da liberdade sexual de todas as mulheres.
“O feminismo abordado por prostitutas é recente e pouco visível. A prostituta sempre foi, e ainda é, objeto de representação nas artes, geralmente de um ponto de vista estereotipado, vitimizador ou romantizado. Neste sentido, por que não tornar visível e compartilhar esse legado de mais três décadas de luta, a partir de suas próprias vozes e narrativas?”, questiona a pesquisadora e ativista Elaine Bortolanza.
“Para contar essa história elaborada a partir da vida e das provocações deixadas por uma puta mulher, optei pela fricção, pela soma, pela coexistência de vozes e elementos, como uma forma de abarcar múltiplos tempos, corpos, vivências e histórias narradas no palco. Assim, esse solo teatral, foi se transformando em um experimento cênico-sensorial com muitas mulheres ‘em cena’, pois sim, somos muitas”, provoca a diretora Malú Bazán.
A atriz Fernanda Viacava disse que, a partir da leitura da autobiografia “Filha, mãe, avó e puta”, sentiu vontade de trazer Gabriela de volta para o teatro. “Encontros que se desdobram em outros encontros. Elos com elas. Desafio de fazer uma personagem real, ser o motor, pesquisar, instigar, seduzir as pessoas para contar a história dessa puta mulher e esse nosso encontro que tem me transformado muito. Um encontro que mudou meu jeito de olhar e me colocar na vida”, revela.
Processo criativo
O espetáculo começou a ser gestado em 2019 por quatro mulheres artistas-ativistas: Fernanda Viacava, atriz que vem pesquisando a puta no teatro desde 2014; Malú Bazán, diretora de teatro e artista que pesquisa o feminino; Elaine Bortolanza, pesquisadora na área, ativista do movimento de prostitutas e diretora da Daspu de 2013 a 2022; e Caroline Margoni, roteirista e pesquisadora que atua nas áreas de psicanálise, mulheres e criminologia.
A pesquisa iniciou com a leitura das duas autobiografias de Gabriela Leite, “Eu, mulher da vida” (1992) e “Filha, mãe, avó e puta” (2009), assim como da “Puta autobiografia de Lourdes Barreto (2023), e valorizou sobretudo a memória e o acervo histórico Davida, que integra desde 2012 o Arquivo Estadual do Rio de Janeiro (APERJ), junto ao Observatório da Prostituição – projeto de pesquisa e extensão do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR-UFRJ).
O grupo Mulheres da vida, junto à pesquisa e curadoria de Elaine Bortolanza e criação audiovisual de Cassandra Mello, acessou os arquivos de vídeo dos encontros nacionais e estaduais, fotografias, áudios do acervo do movimento, e promoveu encontros com amigos, familiares e as companheiras que fizeram parte da vida e luta de Gabriela. O monólogo é um mosaico de narrativas e escritas de mulheres, construído nesse processo de pesquisa e curadoria do acervo histórico.
Colaboradores
Entre as pessoas que contribuíram para o processo de pesquisa dramatúrgica, estão: Flávio Lenz, parceiro de vida com quem Gabriela se relacionou por mais de 20 anos e com quem fundou a ONG Davida e o Jornal Beijo da Rua; Maurício Toledo, amigo mais antigo dela e companheiro da ONG Davida; Thaís Helena Leite e Regina Leite, irmãs da ativista; Alessandra Leite, filha dela; Tatiany Leite, neta de Gabriela, com quem ela tinha uma relação muito próxima; Lourdes Barreto, amiga e a maior companheira de luta, fundadora do Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará – GEMPAC (1990); Vânia Rezende, prostituta e ativista da região Nordeste, coordenadora da Associação Profissionais do Sexo de Pernambuco – APPS, parceira de luta da RBP; Soraya Simões, professora do IPPUR/UFRJ e coordenadora do Observatório da Prostituição; e Laura Murray, professora do Núcleo de Políticas Públicas e Direitos Humanos na UFRJ e diretora do filme “Um Beijo para Gabriela”.
Gabriela Leite
Gabriela Leite era socióloga foi a idealizadora da grife Daspu, desenvolvida por prostitutas, e cujo nome é uma provocação à Daslu, então a grande loja de artigos de luxo do Brasil. Foi a fundadora da ONG Davida – Coletivo Puta Davida, defensora dos direitos das prostitutas e da promoção à cidadania e criadora da Rede Brasileira de Prostitutas. Também promoveu ações importantes na luta contra a aids e, por seu trabalho nessa área, foi homenageada durante pelo Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (GAPA) de São Paulo – primeira ONG de prevenção ao HIV do país – como um dos 100 nomes que fizeram a história da luta contra a doença no Brasil.
“Gabri[ELAS]”
Data: 20 de setembro, sexta-feira
Horário: 20h
Local: Sesc Campinas – Rua Dom José I, 270/333 – Bonfim, em Campinas
Ingressos: R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia-entrada) e R$ 15 (credencial plena)
Venda: Pelo app Credencial Sesc SP ou na bilheteria da unidade ou clique aqui
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: 18 anos
Sinopse
O monólogo parte do encontro da atriz Fernanda Viacava com a vida e a obra de Gabriela Leite, principal referência na luta em defesa dos direitos das prostitutas no Brasil. Após o espetáculo, bate-papo com Betânia Santos, prostituta e líder da Associação Mulheres Guerreiras de Campinas, que fez parte da pesquisa para construção desse espetáculo.
Ficha Técnica
Concepção e Idealização: Caroline Margoni, Elaine Bortolanza, Fernanda Viacava e Malú Bazán
Dramaturgia: Caroline MargoniDireção: Malú Bazán
Elenco: Fernanda Viacava
Direção Vocal Interpretativa: Lúcia Gayotto
Pesquisa e curadoria: Elaine Bortolanza
Memória e curadoria: Lourdes Barreto
Direção de Arte: Kabila Aruanda
Trilha Sonora: Nina Blauth e Girlei Miranda
Música original: Nina Blauth
Criação audiovisual: Cassandra Mello (Teia Documenta)
Assistência de criação audiovisual: Ciça Lucchesi
Iluminação: Cristina Souto
Identidade Visual: Manuela Afonso
Operação de luz: Nara Zocher
Operação de Vídeo e som: Ciça Lucchesi
Fotos: Cassandra Mello
Produção Executiva: Baccan Produções, Kavaná Produções
Produção Geral: Clotilde Produções Artísticas