Em Campinas, o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, celebrado em 28 de maio, será marcado por um protesto que reivindica representatividade feminina em um dos principais equipamentos públicos de saúde voltados às mulheres da cidade. O Centro de Referência de Assistência Integral da Mulher (CRAIM), construído com recursos federais conquistados por meio de políticas voltadas à saúde feminina, foi batizado com o nome de um homem, ex-vereador do município — decisão aprovada pela maioria da Câmara Municipal.

O gesto provocou indignação entre movimentos sociais, ativistas e lideranças feministas da cidade. Para elas, o centro, símbolo de uma conquista construída ao longo de anos por diversas frentes de luta, deveria levar o nome de uma mulher com trajetória reconhecida na defesa dos direitos femininos. O protesto acontecerá às 17h, na Avenida das Amoreiras, próximo ao Ambulatório Médico de Especialidades (AME), local em que o CRAIM foi instalado.

A origem do centro remonta ao período do governo Dilma Rousseff (PT), quando o Ministério da Saúde firmou convênio com a Prefeitura de Campinas para a construção do espaço. Desde então, ativistas promoveram diversas mobilizações para evitar que os recursos fossem perdidos e para garantir que o projeto saísse do papel. O CRAIM foi concebido para prestar atendimento integral à saúde da mulher, com enfoque especial no acolhimento, prevenção e combate às violências físicas e simbólicas que atingem especialmente as mulheres das periferias.

A mobilização também reforça a importância de políticas públicas específicas para a saúde da mulher. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a cada dois minutos uma gestante morre no mundo por complicações durante a gravidez ou o parto. Entre os fatores de risco estão a hipertensão e a chamada Síndrome HELLP, condição grave que pode provocar lesões em órgãos vitais, destruição de células sanguíneas e alterações hepáticas.

A professora e médica da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sandra Fonseca, destaca que a desigualdade social está entre as principais causas da mortalidade materna, atingindo com mais força as mulheres negras. A médica Maria das Dores Nunes, ginecologista e obstetra na Fundação Municipal de Saúde de Teresina, reforça que o pré-natal é ferramenta essencial para evitar complicações, mas ainda está longe do alcance de muitas mulheres brasileiras.

De acordo com o Ministério da Saúde, o ideal é que o pré-natal comece até a 12ª semana de gestação. A orientação vale também para o parceiro, com o objetivo de ampliar o cuidado familiar desde o início da gravidez. O chamado “pré-natal do parceiro” integra a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, com foco na valorização da paternidade e da responsabilidade compartilhada.

Diante de um cenário ainda marcado por desigualdades e omissões, a manifestação do dia 28 de maio busca não apenas corrigir uma injustiça simbólica — a exclusão do nome feminino no CRAIM —, mas reafirmar o protagonismo das mulheres na construção de políticas públicas voltadas à vida, ao cuidado e à dignidade.

Histórico
O Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher foi criado em 1984, durante uma reunião da Rede Mundial de Mulheres pela Saúde, realizada na Holanda. Desde então, a data tem sido um marco mundial na defesa de políticas públicas que combatam as desigualdades de gênero na área da saúde. No Brasil, a mobilização ganhou força com a ampliação do acesso ao pré-natal, à saúde sexual e reprodutiva e à luta por partos humanizados. A data também lembra o desafio contínuo de garantir atendimento digno, principalmente às mulheres negras, periféricas e indígenas.

Serviço
Ato público em defesa do nome feminino no CRAIM
📅 Data: 28 de maio (terça-feira)
🕔 Horário: 17h
📍 Local: Avenida das Amoreiras, esquina com Prefeito Faria Lima – próximo ao AME (Ambulatório Médico de Especialidades)

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