SEM ENERGIA

APAGÃO EM SP: CAOS E IRRESPONSABILIDADE DEPOIS DA PRIVATIZAÇÃO

Escrito por : Direção do Sinergia CUT 16 de outubro de 2024
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Autor da foto: Sinergia CUT

A sociedade vive um caos com a privatização. O processo de privatização iniciado no Brasil no início da década de 90, e com mais intensidade do estado de São Paulo, transferiu para as grandes corporações internacionais grande parte das empresas públicas, entre elas empresas de prestação de serviços essenciais, como é o caso da energia elétrica.

O argumento dos privatistas era, e continua sendo, que o Estado é um péssimo gestor. Portanto, na mão de empresas privadas, a prestação de serviços seria de melhor qualidade e os recursos obtidos com a venda seriam investidos em educação, saúde, segurança e transporte.

Hoje, passados mais de trinta anos do processo das vendas das empresas públicas ao capital privado, a população não tem saúde, não tem educação, não tem segurança e não tem transporte. Mas tem uma prestação de serviço em calamidade cada vez maior. As tarifas desses serviços foram subindo de maneira exponencial, com o objetivo de remunerar os acionistas internacionais à custa da sociedade brasileira que convive com uma péssima prestação de serviço.

Sem contar que essas companhias compraram as empresas públicas com parte de dinheiro público. E, passados trinta anos, estamos vivendo um caos, que vem se agravando em um ciclo crescente de falta de responsabilidade das empresas e de ausência de fiscalização pelas agências reguladoras, que as tornam coniventes e cúmplices dessa calamidade vivida pela sociedade.

Esse cenário exige a existência de uma política energética que seja justa e voltada para a sociedade. A Aneel, a exemplo de outras agências reguladoras, pega uma concessão pública e repassa para o capital privado. A Enel, a exemplo de outras concessionárias, pega uma concessão pública para operar por trinta anos, suga ao máximo todos os equipamentos, deixa sucatear para depois trocá-los, pois essa troca vai para tarifa, enquanto a manutenção sai do lucro das empresas.

Essa prática absurda de alguns grupos que operam o setor fez com que o mesmo se tornasse um dos mais rentáveis da economia. Todos os ônus e a falta de responsabilidade das empresas vão para tarifa, para engordar o caixa das empresas. Enquanto isso, os consumidores pagam uma das tarifas mais caras do mundo e têm a pior prestação de serviços do universo.

Assim, a Enel só aumenta lucros e dividendos aos acionistas, demitindo mais de 40% do quadro de trabalhadores e trabalhadoras, contratando empreiteiras sem a devida qualificação e treinamento, além de sucatear equipamentos. Pior: só no último período, a empresa deixou de investir R$ 600 milhões em melhorias e manutenção preventiva.

Depois do apagão de novembro do ano passado, a distribuidora da capital e cidades da região metropolitana reconheceu que não tinha o quadro de pessoal necessário para operar a concessão pública e solicitou alguns meses para repor trabalhadores. Hoje, passado quase um ano, admitiu que contratou somente 11% do que é necessário. Um absurdo.

Além do caos que essa empresa cria para a sociedade, ela contribui para o aumento significativo de acidentes de trabalho e acidentes com a população, muitos infelizmente fatais. E ainda remunera mal os trabalhadores e as trabalhadoras, apostando no quanto pior melhor. A situação vivida pela população de São Paulo e região metropolitana – que tem corroborado para o caos no setor público – que não faz nem as podas de árvores.

Acha que é mais fácil jogar a culpa na tempestade do que cuidar bem de gente. E agora? Com um quadro muito reduzido de trabalhadores, equipamentos em péssimas condições e mais de três milhões de pessoas sem energia pela terceira vez em menos um ano, outras empresas concessionárias foram convocadas para ajudar na recuperação do fornecimento de energia em São Paulo. A pergunta que fica é: e as áreas das cidades onde essas empresas operam não vão sentir falta de pessoal?

Portanto, só há uma alternativa: cassar a concessão pública dessa péssima empresa, alterar as estruturas das agências de regulação preferencialmente com a participação popular e criar uma nova política energética para o país. Como teremos uma transição justa se temos mais de um milhão de pessoas há mais de cinco dias sem energia na capital paulista? Um serviço essencial à sociedade do estado mais rico do Brasil?

Nem a Flórida, nos Estados Unidos, passou por essa situação de caos depois da passagem do furacão Milton, com ventos de mais de 150 km por hora. É um descaso e uma irresponsabilidade com a sociedade brasileira o que faz a Enel, o que faz a agência reguladora, o que faz a prefeitura de São Paulo e das cidades que estão sendo impactadas pelas chuvas. A Enel não é culpada pelo temporal, mas é culpada pelas consequências irresponsáveis que esse temporal deixou. Um apagão de caos.

Direção do Sinergia CUT

Campinas, outubro de 2024.

 

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