Construindo pontes

Sinergia CUT participa de visita estratégica na Embaixada da China e reforça defesa dos direitos trabalhistas

Encontro promovido pela IndustriALL Brasil tratou das relações de trabalho, investimentos chineses e da importância do diálogo constante

Escrito por Débora Piloni, com informações da Assessoria da Área de Novas Tecnologias do Sinergia Campinas 17 de abril de 2025
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Autor da foto: Divulgação

A Embaixada da China em Brasília recebeu nesta terça-feira (16) uma comitiva sindical dos setores Energético e Metalúrgico, em atividade coordenada pela IndustriALL Brasil. O objetivo central foi ampliar o diálogo para que possibilite equalizar os Acordos Coletivos de Trabalho das distribuidoras do Grupo CPFL Energia no Estado de São Paulo. Mas o encontro foi além, com outros temas abordados pelo Embaixador Zhu Qingqiao, tais como as relações bilaterais entre Brasil e China, os investimentos chineses em território brasileiro, e a importância da valorização dos trabalhadores em todo esse processo.

O embaixador destacou o avanço das relações comerciais entre os países, especialmente no marco dos 50 anos de relações diplomáticas e apontou o Brasil como maior parceiro comercial da China dentro da América Latina, registrando US$ 100 Bi aplicados em 2024. Também registrou que há cerca de 70 mil trabalhadores empregados nas empresas chinesas no Brasil em setores como energia, logística e e-commerce.

O Embaixador Zhu Qingqiao destacou o atual cenário global como um momento decisivo para a identificação de novas plataformas de investimento. Nesse contexto, ressaltou a importância da visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil em novembro de 2024, classificando a agenda como parte de uma parceria estratégica global voltada para a construção de um mundo mais justo e sustentável.

Ele também mencionou iniciativas como o Cinturão e Rota da Seda, o Novo PAC e a Nova Indústria Brasil como exemplos de políticas positivas de investimento a longo prazo. Enfatizou ainda que a China possui um Plano de Desenvolvimento Estratégico que prioriza setores como finanças e tecnologia, com o Estado chinês atuando como agente impulsionador dessa transformação.

Otimismo: o embaixador comentou que a presença das empresas chinesas no Brasil vem crescendo, especialmente por meio de uma associação sediada em São Paulo, que já reúne cerca de 150 membros. Segundo o embaixador, essas empresas estão otimistas em relação ao futuro do Brasil como ambiente de negócios, destacando a importância da parceria com o governo Lula, a qual definiu como uma “Comunidade de Futuro Compartilhado” entre os dois países.

O diplomata também reforçou a necessidade de diálogo com os sindicatos para uma melhor compreensão das leis, costumes e culturas brasileiras no que se refere ao mundo do trabalho, ao meio ambiente e à legislação fiscal, cobrando maior responsabilidade social por parte das empresas chinesas. Como exemplo, citou ações sociais desenvolvidas em comunidades do Rio de Janeiro voltadas à formação profissional e à capacitação de engenheiros por meio de plataformas educacionais.

Por fim, ressaltou que os sindicatos devem ser mais escutados e envolvidos na construção de uma agenda comum de cooperação industrial e sinergia estratégica entre Brasil e China.

Reivindicações

Divulgação

A delegação do Setor Metalúrgico propôs ao Embaixador da China a criação de um Grupo de Trabalho conjunto entre as Entidades Sindicais e a Embaixada, com o objetivo de monitorar e mapear a atuação das empresas chinesas no Brasil em relação à inclusão de pessoas não brancas. Também foi sugerida a participação do Ministério da Igualdade Racial nesse grupo. Em resposta, o Embaixador se comprometeu a convidar empresas chinesas dos setores energético e metalúrgico para um seminário voltado à discussão da cultura chinesa como exemplo de diversidade e inclusão. Reiterou ainda que “quem sustenta o mundo são os trabalhadores e as trabalhadoras”.

Esteliano Neto, diretor de Energia da IndustriALL Brasil, presidente da FRUSE (Federação Interestadual dos Urbanitários do Sudeste), dirigente do Sinergia CUT e vice-presidente do Sinergia Campinas, destacou a relevância da mesa e das falas do Embaixador, mas fez um alerta sobre a distância entre o discurso e a prática de algumas empresas chinesas. Citou, como exemplo, a CPFL Santa Cruz — controlada pelo Grupo CPFL Energia, ligado à State Grid — que, apesar de receber o prêmio de 1º lugar em satisfação da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), oferece remuneração e benefícios inferiores aos de outras empresas do grupo, como a CPFL Piratininga. Para ilustrar a situação, foi apresentado um material visual que teve boa receptividade por parte da Embaixada. O Embaixador, por sua vez, afirmou que entrará em contato com a State Grid/CPFL Santa Cruz para apurar as informações.

Claudinei Ceccato, Presidente do Sinergia Campinas e Secretário de Relações Internacionais da FRUSE, resgatou o histórico das privatizações no setor elétrico, questionando o atual modelo de negociação baseado em Acordos Coletivos e defendendo a construção de uma Convenção Coletiva. Ele enfatizou a urgência na defesa e ampliação dos direitos da classe trabalhadora, a valorização da formação sindical, a inserção das mulheres no setor energético e o cumprimento efetivo das normas regulamentadoras (NRs). Ceccato também criticou a postura de algumas empresas que tentam transferir para os gestores chineses a responsabilidade pelas decisões nas mesas de negociação. Mencionou, como exemplo, as empresas CTG Paraná e CTG Paranapanema. Ao final de sua fala, entregou ao Embaixador uma carta-convite para visitar a sede do Sindicato.

Carlos Alberto Alves, Presidente do Sinergia CUT, destacou a importância das relações comerciais entre Brasil e China, mas reforçou a necessidade de ações concretas em prol do trabalho decente nas cadeias produtivas. Chamou atenção para os impactos negativos causados pelas empresas de energias renováveis, especialmente no Nordeste, e alertou que a transição energética só será justa se os trabalhadores forem incluídos de forma efetiva nesse processo. Ele sugeriu a realização de seminários de debate e programas de requalificação profissional, com a participação direta das empresas.

Canal aberto

Encerrando o encontro, o Embaixador Zhu Qingqiao refletiu sobre o cenário geopolítico global, destacando a postura estratégica da China diante das tensões comerciais com os Estados Unidos. Criticou o “tarifaço” do governo norte-americano e reforçou a resiliência chinesa, afirmando: “Achavam que éramos uma piscina, mas somos um oceano”. Segundo ele, o país vem se preparando há oito anos para esse momento e aposta no fortalecimento do mercado interno, no investimento em pessoas e na diversificação de parcerias externas.

Por fim, elogiou a iniciativa das comitivas e garantiu que dará encaminhamento às demandas apresentadas, mantendo abertos os canais de diálogo com os sindicatos.

Divulgação/Montagem: Leandro Dantas

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