Nota do Sinergia CUT

Como consequência das privatizações do setor elétrico, país sofre mais um apagão

Ocorrência teve início com um incêndio em um reator na subestação de Bateias, no Paraná

Escrito por Coletivo de Energia do Sinergia CUT 15 de outubro de 2025
Compartilhe:
Autor da foto: Divulgação

Mais uma vez, os resultados do processo de privatização iniciado em meados da década de 1990 demonstram de forma clara e inquestionável o quanto o setor elétrico brasileiro tem sido sistematicamente sucateado. O modelo adotado, sob a justificativa de aumento de eficiência e competitividade, tem produzido exatamente o oposto: a precarização das relações de trabalho, o aumento constante das tarifas de energia e a deterioração da qualidade dos serviços prestados à população.

A energia elétrica, por sua natureza estratégica e essencial à soberania e ao desenvolvimento nacional, não pode ser tratada como mera mercadoria submetida à lógica do lucro privado. A entrega de empresas públicas a grupos econômicos, muitas vezes estrangeiros, tem desestruturado a capacidade do Estado de garantir segurança energética, universalização do acesso e tarifas justas.

Desde 2018, o setor elétrico vem registrando intercorrências que paralisam o País: no Piauí (2018)[2], no Amapá (2020)[3] , no Ceará (2023)[4] e, mais recentemente, no Paraná (2025).

Na esteira desses acontecimentos, é igualmente necessário destacar o serviço de péssima qualidade e de maneira recorrente que a Enel São Paulo tem prestado na capital paulista, marcado por interrupções constantes, demora no restabelecimento da energia e falta de transparência na comunicação com os consumidores. Apesar desse histórico amplamente documentado, a ANEEL[5] em evidente contradição com seu papel regulador e fiscalizador, emitiu Nota Técnica favorável à renovação da concessão da empresa por mais trinta anos, alegando o cumprimento de critérios técnicos. Tal decisão revela a desconexão da agência com a realidade enfrentada pela população e pelos trabalhadores do setor, reforçando a percepção de captura regulatória e de subordinação do interesse público aos interesses privados. A postura da ANEEL, ao invés de corrigir distorções e exigir melhorias, legitima a precarização do serviço e fragiliza ainda mais a confiança social na capacidade do Estado de regular um setor essencial à vida e ao desenvolvimento nacional.

Todos esses episódios têm em comum a gestão privada de empresas que deveriam atuar sob o princípio do interesse público, evidenciando que o desmonte das estruturas estatais trouxe profunda vulnerabilidade e instabilidade do sistema elétrico nacional.

 Após a privatização da Eletrobras em 2022, esse cenário se agravou. A fragmentação da gestão, a redução de investimentos em manutenção e expansão da rede e o enfraquecimento da regulação pública consolidaram um modelo incapaz de responder com eficiência e equidade às necessidades da população brasileira.

Politicamente, a privatização da Eletrobras representa um retrocesso na soberania energética nacional. Tecnicamente, trata-se de um erro estratégico: reduz a capacidade de planejamento de longo prazo, fragiliza a coordenação entre geração, transmissão e distribuição e torna o sistema mais suscetível a falhas e apagões.

Diante disso, manifestamos mais uma vez nosso repúdio à política de privatizações que transformou um serviço essencial em ativo financeiro, colocando o lucro acima do direito da população ao acesso seguro e contínuo à energia. Defendemos a reestatização da Eletrobras e todo o sistema elétrico brasileiro, o fortalecimento das empresas públicas de energia e políticas que priorizem o interesse coletivo, a sustentabilidade, a modicidade tarifária e a soberania nacional.

Além disso, é imprescindível e inadiável que o governo federal adote um olhar estratégico sobre o modelo do setor, avaliando de forma profunda seus impactos sociais, econômicos e ambientais e construindo um novo paradigma de gestão pública que contemple o presente e o futuro da sociedade e dos trabalhadores. O momento exige visão de Estado, planejamento de longo prazo e compromisso com a reconstrução de um setor que é vital para o desenvolvimento do país.

Por fim, é sempre necessário lembrar pra não esquecer: a energia é um bem público. O povo brasileiro não pode continuar arcando com os custos de um projeto que beneficia poucos e penaliza milhões.

O apagão

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirma que nesta terça-feira, 14 de outubro, às 0h32, houve uma ocorrência no Sistema Interligado Nacional (SIN) que provocou a interrupção de cerca de 10.000 MW de carga, afetando os quatro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

A ocorrência teve início com um incêndio em um reator na Subestação de Bateias, no Paraná[1], desligando toda a subestação de 500 kV e ocasionando a abertura da interligação entre as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste. No momento, a região Sul exportava cerca de 5.000 MW para o Sudeste/Centro – Oeste.

Na região Sul houve perda de aproximadamente 1.600 MW de carga. Nas demais regiões, houve atuação do ERAC – Esquema Regional de Alívio de Carga. No Nordeste a interrupção foi da ordem de 1.900 MW, no Norte, de 1.600 MW e no Sudeste, de 4.800 MW.

Assim que identificou a situação, o ONS iniciou ação conjunta com os agentes para restabelecer a energia nas regiões. O retorno dos equipamentos e a recomposição das cargas se deu de maneira segura, logo nos primeiros minutos, sendo que em até 1h30min todas as cargas das regiões Norte, Nordeste, Sudeste/Centro – Oeste foram restabelecidas. As cargas da região Sul foram recompostas totalmente por volta de 2h30min após a ocorrência.

Uma reunião com os principais agentes envolvidos na ocorrência está programada para ser realizada ainda hoje. O ONS deverá realizar ainda uma reunião preliminar de Análise da Perturbação para início de elaboração do Relatório de Análise da Perturbação – RAP até sexta-feira, 17/10.

________________________________________________________________

[1] Nota do ONS: Operador Nacional do Sistema

[2] https://www.ons.org.br/Paginas/Noticias/20180322-notaaimprensacomplementar2.aspx

[3] https://www.ons.org.br/Paginas/Noticias/20201207-ons-divulga-rap-ocorrencia-amapa.aspx

[4] https://www.ons.org.br/Paginas/Noticias/Ocorr%C3%AAncia-no-SIN-em-15-de-agosto-de-2023.aspx

 

[5] Agência Nacional de Energia Elétrica

 

Compartilhe: