Colegiada do Sinergia CUT e do Sinergia Campinas: “Chegamos com tudo, saímos com muito mais”
Foram dois dias de reunião em Praia Grande, com debates, reflexões e decisões importantes para continuar a construir projeto coletivo e garantir conquistas
Escrito por : Lílian Parise, da Redação do Sinergia CUT 17 de abril de 2025
Foram dois dias de momentos marcantes, vários reencontros, muita emoção e intenso debate sobre o presente e o futuro de quem ilumina o estado de SP com trabalho, coragem, energia e ousadia. Isso é só um resumo do que rolou durante a 2ª Reunião da Direção Colegiada do Sinergia CUT e do Sinergia Campinas, realizada na sexta (11) e no sábado (12) da semana passada, em Praia Grande (SP).
Na tarde de sexta-feira, os presidentes Carlos Alberto Alves (Sinergia CUT) e Claudinei Cecatto (Sinergia Campinas) deram as boas vindas a dezenas de dirigentes que lotaram o auditório da Colônia de Férias do Sindicato.
Em seguida, Cibele Granito (secretária Geral) mediou a mesa de abertura que debateu Os cenários e os desafios da classe trabalhadora no Brasil e no mundo, a partir de exposições de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, e Sérgio Nobre, presidente da CUT Brasil.
Democracia e verdade versus neoliberalismo e mentira
Edinho Silva começou fazendo um resgate histórico da ascensão do fascismo desde o século passado (crise de 1929) até os dias atuais de globalização, ideologia política sempre caracterizada pelo culto à personalidade, ao ultranacionalismo, ao aumento de territórios, à política do autoritarismo, à repressão pelo uso da força e à perseguição a diferentes.
“O fascismo vem sempre como consequência de crises do capitalismo, com propostas que destacam o nacionalismo, onde cada país cuida de seu povo, incluindo a xenofobia, e uma agenda conservadora, com misoginia, racismo e tudo para acabar com qualquer política de igualdade e de diversidade”, destacou.
Afirmou ainda que a democracia representativa está em crise no Brasil e no mundo em pleno século 21, e que é preciso saber que uma nova classe trabalhadora também está se formando em todos os países, passando a conhecer quais são as expectativas e esperanças das novas categorias que estão nascendo.
“Precisamos ter muito claro todos esses cenários para que possamos debater o futuro do país que queremos, incluindo aí a transição energética atual. É preciso saber também que o momento atual é do neoliberalismo contra a democracia, da mentira contra a verdade, e que futuro queremos para nós e para o Brasil”, resumiu.
Mobilização na Marcha a Brasília
Em seguida, Sérgio Nobre abordou vários cenários político-sindicais, começando pelas relações entre a CUT, os partidos políticos, o governo federal e o Congresso Nacional. Falou da dificuldade de governabilidade do presidente Lula que, apesar disso, continua contando com apoio popular no Brasil e reconhecimento no mundo todo. Destacou que a prioridade do governo democrático popular é o fortalecimento da democracia, o desenvolvimento social e econômico e as necessidades urgentes da população brasileira.
“É por isso que precisamos intensificar a mobilização por nossas reivindicações e reorganizar o movimento sindical diante de uma nova realidade, começando com a jornada de luta que acontece durante todo esse mês. Vamos também participar, e levar muita gente para a Marcha a Brasília, no próximo dia 29, com várias bandeiras de luta coletivas: redução da jornada de trabalho sem redução de salários, fim da escala 6X1, isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e faixas de desconto mais justas e escalonadas, entre outras”, afirmou o sindicalista.
No encerramento, deu informações sobre uma pesquisa que a CUT e a Fundação Perseu Abramo (FPA) devem lançar em breve para colher o sentimento da população sobre o atual mercado de trabalho e o governo Lula. “Logo mais estaremos nas ruas para buscar a verdade do que pensa e como se sente a classe trabalhadora diante do novo e transformado mundo do trabalho”, concluiu.
Plano de Ação e Aprovação de Congressos
O segundo e último dia da Reunião Colegiada começou na manhã de sábado (12), com a apresentação e a socialização de informações atualizadas do Plano de Ação Geral do Sinergia CUT e do Sinergia Campinas, que prevê uma gestão coletiva e planejada para envolver todos os sindicatos que fazem parte do projeto.
Em seguida, os e as dirigentes participaram de uma votação prevista em estatutos para convocar e aprovar a realização dos Congressos do Sinergia CUT e do Sinergia Campinas, que devem acontecer em novembro. Aprovados por unanimidade.
Segurança e saúde física e mental
Depois, Pedro Tourinho (médico sanitarista e presidente da Fundacentro) e Esteliano Gomes Neto (presidente da Fruse e dirigente nacional da CUT) participaram da mesa Saúde e Previdência – As NRs e a Aposentadoria Especial. A mediação foi de Magali Marques, dirigente do Sinergia Gasista.
Tourinho começou abordando a Norma Regulamentadora (NR) 1, norma do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que define diretrizes gerais de saúde e segurança no trabalho e que é a base de todas as outras normas para garantir a segurança e a saúde de trabalhadores e trabalhadoras, incluindo expressamente os fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho no gerenciamento de riscos ocupacionais (GRO). Essa alteração foi resultado das discussões sobre o tema durante três anos por um Grupo de Estudos Tripartite (GET).
A NR1 foi atualizada em 2024 e está prevista para entrar em vigor a partir de 26 de maio deste ano, mas pode ser adiada. Ressaltou que a principal mudança é a obrigatoriedade de avaliação e gerenciamento de riscos psicossociais relacionados ao trabalho, com diretrizes para garantir a segurança e saúde física e mental.
O médico lembrou que, em 2022, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicaram diretrizes sobre saúde mental no trabalho. Nessa publicação estimou-se que no mundo 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade, com queda na produtividade.
Informou também que “no Brasil, considerando os acidentes de trabalho de 2022, os Outros transtornos ansiosos representaram 3,78% do total de adoecimentos (3º lugar), perdendo apenas para Dorsalgia e Lesões do ombro”.
“Sem mencionar Episódios depressivos e Reações ao estresse grave e transtornos de adaptação, que representaram 2,32% e 2,25% respectivamente. Se somarmos os transtornos mentais referidos, eles figurariam em 2º lugar, representando 8,35% dos adoecimentos ocupacionais em 2022, perdendo apenas para a Dorsalgia”, ressaltou.
Para ele, “a saúde mental é uma questão fundamental no atual contexto de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), ficando evidente a importância de as organizações abordarem os fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho com o objetivo de prevenir o adoecimento mental e outras lesões e agravos à saúde do trabalhador”.
Como exemplo, Tourinho apresentou a listagem exemplificativa de fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho que podem acarretar agravos à saúde do trabalhador:
Perigo (fator de risco) | Possível consequência (lesão ou agravo) |
Assédio de qualquer natureza no trabalho | Transtorno mental |
Má gestão de mudanças organizacionais | Transtorno mental |
Baixa clareza de papel/função | Transtorno mental/ DORT |
Baixas recompensas e reconhecimento | Transtorno mental |
Falta de suporte/apoio no trabalho | Transtorno mental |
Baixo controle no trabalho/Falta de autonomia | Transtorno mental |
Baixa justiça organizacional | Transtorno mental/ DORT |
Eventos violentos ou traumáticos | Transtorno mental |
Baixa demanda no trabalho (subcarga) | Transtorno mental |
Excesso de demandas no trabalho (sobrecarga) | Transtorno mental |
Más relacionamentos no local de trabalho | Transtorno mental/ DORT |
Trabalho em condições de difícil comunicação | Transtorno mental |
Trabalho remoto e isolado | Transtorno mental/ Fadiga |
“O trabalho tem correlação direta com a nossa saúde. Mais do que pensar nas condições de trabalho, precisamos pensar na saúde mental no ambiente organizacional das empresas. E isso não vem acontecendo como é necessário, já que os adoecimentos como ansiedade, depressão, dores nas costas, fadiga e outros transtornos mentais, como o bournout, que é um estresse psíquico severo, só vem aumentando”, avaliou.
O presidente da Fundacentro abordou também os perigos e os fatores de risco no ambiente de trabalho e suas possíveis consequências, que podem acarretar agravos à saúde física e mental. “Além do bournout, que deixa várias cicatrizes e pode deixar sequelas permanentes, mesmo depois de tratamentos, precisamos olhar com cuidado para casos de assédio moral e sexual, com acolhimento das vítimas e iniciativas de combate”, finalizou.
Luta pela Aposentadoria Especial
Esteliano Neto, que também é vice-presidente do Sinergia Campinas, falou em seguida da luta histórica da categoria eletricitária pela volta do direito que garante aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho para profissionais que trabalham em áreas de risco ou arriscando a própria vida.
Relembrou a tramitação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 42/2023, que garante a concessão da aposentadoria especial para trabalhadores e trabalhadoras expostos a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, o que inclui a categoria eletricitária.
Destacou também a necessidade de intensificar a mobilização nacional para pressionar o avanço do PLP, inclusive dentro do Congresso Nacional, para transformar informações em ações concretas.
“Trabalhador eletricitário, trabalhadora eletricitária, somos sobreviventes. Nosso trabalho diário é de risco e pode ser fatal. Por isso, precisamos cuidar de todo mundo para garantir que pais e mães voltem para casa. E que, depois de tantos anos trabalhando sob estresse e risco de morte, faça chuva ou faça sol, temos que continuar lutando e sorrindo sempre. Porque ainda estamos aqui”, concluiu antes dos debates finais.
Lançamento da CS 2025
A 2ª Reunião de Direção Colegiada do Sinergia CUT e do Sinergia Campinas foi encerrada no final da tarde, com o lançamento oficial da Campanha Salarial 2025, apesar de os sindicatos já estarem participando de várias negociações. Cibele Granito lembrou que “na verdade a Campanha Salarial dura o ano inteiro e envolve cerca de sessenta empresas nas negociações”.
A mesa foi formada por presidentes e dirigentes dos sindicatos que fazem parte do projeto Sinergia CUT e que estavam presentes. O presidente Carlos Alberto Alves (Sinergia CUT) comandou a mesa formada por Sinergia Araraquara, Sinergia Bauru, Sinergia Campinas, Sinergia Gasista, Sinergia Litoral e Sinergia Rio Preto. Todos fizeram uma breve saudação e rápida avaliação da importância dos temas debatidos e aprofundados durante a reunião.
Enquanto os dirigentes falavam, uma vinheta produzida pela Comunicação do Sinergia CUT era exibida no telão com a reprodução dos motes das Campanhas Salariais nos últimos dez anos. Ao final do dia, todos e todas chegaram novamente ao consenso de que a mobilização é fundamental para a conquista de Acordos Coletivos de Trabalho que atendam às reivindicações da pauta da categoria energética nas negociações com todas as empresas durante o ano inteiro.
Foram dois dias de intensos debates e cheios de reflexões profundas sobre os desafios do trabalho no setor energético e os rumos do movimento sindical e da classe trabalhadora. Certeza de construção coletiva com muita energia. Porque a vida presta!
Sempre estaremos aqui. Por + direitos, + empregos, + renda